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29 de jul. de 2009

CRÔNICA DA SOLIDÃO

Havia um homem que ontem eu encontrei pela rua, e que não sabia onde era a sua verdadeira casa, o seu inteiro destino, o seu nó.
Estagnado, com medo de voltar, não sei, resolvi não ajudar.
Segui.
Afinal, a vida segue, e nós temos que continuar.
Os dias são como reflexos dos nossos espelhos e solidões, e eu sempre a fazer as mesmas coisas, os mesmos caminhos e desencantos.
Não havia muito que fazer, e tive novamente que passar pelo mesmo lugar, ora, a rotina é meu relógio de pulso que não falha, nem me desaponta.
E encontrei então aquele homem, com poucas palavras, sem saber onde morava, precisando apenas de um minuto de atenção, ou talvez uma companhia que o levasse ao seu local, seja casa ou mocambo, seja alvo ou escândalo. Eu não sabia literalmente o que e como fazer, nunca fui dado a querer tomar partido da vida alheia. Não me agradavam sentimentos de gratidão e pena, prefiro a indiferença, dói menos nas separações.
Mas, acima das minhas necessidades e opções de vida, havia ali, um homem, sim desconhecido, mas que lograva um instante de atenção, e como também não sei me manter incólume por muito tempo, o ajudei.
Levei-o onde deveria, pois, apesar de não saber o endereço, ao menos tinha um papel, amassado, sujo, com seu endereço, ou seja, lá o que for aquele lugar. Não era dos mais agradáveis, e não me importei se era também.
Nunca me permiti envolvimentos maiores, pois a vida acaba e o sentimento fere. Sou um animal não-sentimental, sem colaboração de amor e carícias.
De volta aos meus descaminhos de sempre, e a minha calma rotina de homem pouco moderno, eu não sabia se voltaria novamente a encontrar aquela pessoa, que de tão estranha, me parecia familiar, talvez por nunca eu ter dado ouvidos e olhos a outro ser que não eu mesmo.
É tão difícil imaginar a minha vida em companhia de alguém, porque não seria fácil perceber os defeitos e qualidade de alguém, não me interessam, eu quero apenas dos outros a atenção, pois de intenções o meu inferno está cheio. Boas e Más.
Com medo e com vontade, o tempo seguiu o seu curso, mas a lembrança não se desmembrava dos meus olhos e indolências, afinal, era um homem, uma vida, um ser, que eu levei a algum lugar, que jamais saberia o que seria, ou se o faria bem ou mau ir até lá.
São tantos casos de mortes e abusos que se houve nas cidades.
E quando não se ouve, imagina-se, claro.
Aquele encontro nunca me pareceu tão importante, a ponto de mudar a minha vida, mas encontrar alguém que precisa de ajuda pode significar muita coisa, ora o destino conspirando, ora a vida querendo que você mude, ou ainda, o simples fato de que humanos atraem humanos.
Nunca mais o vira, e hoje já se contam 10 anos de distância medida e tencionada por nós, sem culpas nem agradecimentos, nada de sentimentalismos agora, já passei dessa fase e desse decurso de vida.
E mesmo tendo passado tanto tempo, tanta coisa em minha vida, tantos são os estragos feitos. E não consigo me desvencilhar daquela imagem, daquele pedido, que não de ajuda ou auxílio, mas de socorro... Sabe-se lá o que é encontrar seu próprio pai e não o fazer reconhecer em sua própria imagem?
Eu não quereria mais aquele encontro, mas me dói saber que a vida passa, e eu continuo a carregar o fardo da distância, quista e acolhida em meus enleios de homem perdido em solidão e saudade.



28/07/2009

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