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17 de set. de 2009

CRÔNICA DESESPERADA - I

Era mais um dia sol, um dia de muitas soluções e intensas posturas dos homens, era sábado, dia de se ter um instante de paz, por mais que pouca.
Ele já sabia que seria mais um momento de pura introspecção.
Homem de poucas palavras, muitos insultos a si, no espelho, e nada era materializado ao outro, tudo resguardado à contento das suas insatisfações e decisões.
Olhava-se na fotografia adornada na parede, e se desconhecia, era como se nunca tivesse se visto.
Todos os dias, os mesmos atos se serviam à vontade, como em reprise de novela, que por mais enfadonha que seja, está sempre a nos perseguir.
Aquele homem solitário, indigesto, se via e se desconhecia.
O sábado começara, e com ele algumas mudanças...
Não era mais o espelho que lhes estranhava, mas as cores do quarto, e aquele homem mordaz e morrediço precisava de sair dos seus próprios muros, reconhecer outros terremos, fazer existir uma nova verdade.
Era uma condição sombria aquela, ver-se de perto, mas ao longe somente é que se podia ter a real noção de como o homem é uma perdiz inalcançada no verão.
E ele saiu das suas algemas, se fez notório no chão, e pelas poças d'água, poder-se-ia retroceder seus olhos, agora instaurados numa nova forma.
E sentia medo, desespero pela iniciativa forçada, e via-se efêmero naquele mundo de fora de si, que nunca o abrigara.
Viu gentes, sorriu prá algumas e fingiu felicidade quando seu coração bateu, enfim, forte.
Era a primeira vez que não sentia pena da sua imagem, única vez em que se delegou o poder de olhar outro igual nas ruas.
embriagou-se com perfumes mil, dilacerou alguns olhares espios com sua tirania calada, e só de olhar já se fazia intenso, por primeiro contato.
Esse homem que nunca se libertara, se entendeu como qualquer, e num ato desesperado de retorno ao seu pranto inicial e sequente, ele cai...
Senta-se nas calçadas de suas culpas e sofre por quem chegava-se mais perto, ele nunca tivera contato com quem não fosse a si mesmo, perante o espelho do quarto.
E com a sua mão direita afastou o medo, levantou-se... Seguiu, sem rumo, sem emendas e sabia que no domingo, outra vida o afetaria.
Sem querer voltar prá casa, ele aquietou-se numa esquina e se fez parar, até que o sol voltasse a reinar em seus olhos.



(Continua)

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