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17 de set. de 2009

CRÔNICA DESESPERADA - II

[...]
Já era domingo. Dia relutante, sol sem semblante de alegria, névoa acinzentada, calor estagnado, e frio... muito frio, embora o calor reinasse.
Aquele homem estava parado ainda na mesma esquina, desolado porque na noite todos se entregam, querem do outro pedaços, e nunca o todo.
Ele se via moço, mas com cicatrizes fortes, profundas como raiz de solidão, sem respostas aos seus devaneios.
Um carro passa, e pelo retrovisor alguém o olha, reluta em acreditar que alguém se perderia tão firmemente em tal lugar, não por ser perigoso, ou coisa que o valha, mas porque a essa altura existir já não é uma questão de idéia ou condição, mas uma necessidade, e parecia sim que aquele homem parado, apesar da rubra face, pele tratada, escondia um quê de mortandade nos olhos, na sustentação de si.
Desgraçadamente aquele homem que já nem se sabe nome ou CPF queria permanecer ali, mas entendia que permanecer significa saber-se de si como público, e que todos o saberiam também estar ali, e medo ele tinha, o conhecimento degenera o prazer da descoberta. E ele entendia que a sua missão era se mostrar e se despedir, pela natureza casta de quem necessita sempre de outros olhares, prismas mesmo.
Caminhou desalinhadamente. Encontrou outras gentes, outros carros, cores e carnavais. A vida existe enfim, mesmo nos domingos.
Chega à soleira de sua casa, e não entra.
Quer ter certeza da partida e tem dúvidas ainda sobre a sua chegada, regresso.
Abre o portão, se senta no batente e chora.
A verdade é só uma... Anos sabendo que vida é coisa rara, agora sabe também que morte é cara, artefato de luxo, que todos compram por ninharia.
Decidido, entra.
E volta ao seu espelho, na tentativa única de quem sabe, naquele momento seu pudesse descobrir o que a vida pode oferecer-lhe, porque até agora as promessas não se cumpriram.

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